quarta-feira, 23 de novembro de 2011

falsa velhice

Meu corpo cansado,
Não reflete a idade que consta em meus documentos.
O motorista do ônibus abre a porta traseira para que eu possa subir,
não sabe que ainda não cheguei nos sessenta.

As mulheres se afastam,
jovens soltam risos abafados,
crianças perturbadas e curiosas cutucam suas mães,
pareço não perceber.

O que nenhum deles jamais saberá,
é que ando curvado,
porque carrego pensamentos nas costas.

Afinal,
Tenho em mim todos os sonhos do mundo.

domingo, 14 de agosto de 2011

Ele.


Ele acha o que eu escrevo triste. Espero que desta vez ele não pense assim, embora 1.252km, ou 15h e 10min - com trânsito- segundo o Google Maps, me separem do abraço apertado que escrevo para tentar transmitir. E por mais clichê que isso possa parecer,isso não faz diferença por hoje ser o segundo domingo de agosto, mas faz diferença todas as manhãs quando não acordo com suas músicas bem-humoradas ou vou dormir sem um abraço de boa noite.
Não escrevo para que ele saiba o quanto amor eu sinto por ele ou quão especial ele é pra mim, até porque palavras não seriam eficazes para tal. Mas para que ele leia este texto e se veja personagem não apenas do meu texto, sim da minha vida. Desta vez ele está certo, estou escrevendo exatamente o que eu estou sentindo, sem metáforas para enfeitar, ou dilemas para prender a atenção do leitor.
O que queria contar-lhe é que me olho no espelho e vejo ele, ou pelo menos desejo ver ele. Mas não sei definir se eu que tenho me tornado ele, ou ele que tem se tornado eu. Afinal, vão fazer 24 anos que os sonhos dele, passaram a ser os sonhos de 4 outras pessoas. Ganhar uma bicicleta, casar, ver o São José campeão, passar na faculdade, passar no mestrado, tocar flauta transversa, até brincar de boneca... todos esses são os sonhos dele, até nossos desejos mais ínfimos, tudo isso ele é capaz de sonhar.
Inclusive, ele é capaz de sonhar e acreditar em nós até mesmo quando desistimos, e no final, por mais pedante que possa parecer, ele sempre responde com um simples "eu já sabia..." Pois é pai, eu não sabia, e talvez ainda não saiba como é possível uma pessoa amar tanto outra, ser capaz de acreditar nela, quando nem ela acredita, mas você tá me ensinando.
De todos os milhões de sonhos que tenho todos os dias, acho que o que mais desejo é ser um dia como você, ver meus sonhos ofuscados pela alegria de um sorriso fruto uma tarde passeando de bicicleta, ou por um resultado de um jogo que você jamais imaginaria se importar.
Meu ídolo e meu leitor #1 obrigada por acreditar em mim e sonhar comigo, por fazer de cada vitória minha, uma vitória sua ainda maior.
Hoje não vou me importar com o desfecho desse texto, afinal mais do que o enredo o que me importa é o personagem.
Amo você.

terça-feira, 28 de junho de 2011

dádiva

Hoje não vou apagar velinhas,

Mas tomarei a cerveja mais gelada

No bar mais barato.

Reviverei todas aquelas histórias,

Talvez até inventarei algumas outras.

Peço apenas que não se importe caso uma lágrima queira cair,

Ela esconde um sorriso de gratidão.

Junto comigo, elas celebram mais um ano de sua existência.


e infelizes daqueles que pensarem que eu estou sozinha.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

aureas mediocritas





Foi ontem, ou talvez semana passada, não importa.
Uma aula que acabou antes do previsto e um motorista que freiou buscamente o ônibus depois do ponto. Subo no ônibus e me deparo com dois sorrisos enormes, um chocalho de lata de nescau e um violão desgastado.
Dois meninos se apresentavam para a platéia cansada que frequenta ônibus ás 22h de quinta-feira. Muitos dormiam, outros liam, falavam ao telefone, mas alguns poucos pararam para ouvir a música, eu era uma delas. Acho que a música estava um pouco fora do compasso, pra falar a verdade não me lembro, me perdi em meio aqueles sorrisos e não era capaz de prestar atenção em mais nada.
Ao perceberem meu sorriso infantil, sorriam cada vez mais infantilmente para mim. Sem perceber estava cirandando com eles de mãos dadas sem desgrudar do banco ou soltar a mochila pesada das minhas mãos. Fantasiei, fantasiamos, por umas frações de segundos simplesmente esqueci que onde eu estava, estava feliz, esse era meu estado de espírito e isso bastava.
Nosso conto de fadas durou pouco mais de 3km, a distância da Enseada de Botafogo ao final da praia do Flamengo, para ser mais precisa.


Ao fim, eles passaram a sacola mágica, pediram que colocássemos o que quiséssemos dentro dela, pensei em colocar mil coisas, mas coloquei apenas 2 moedas de 25 centavos. Queria ter colocado ali mil fotos, um texto, um poema, e mais que tudo isso, um verdadeiro muito obrigada, pois naquele momento, eles me fizeram encontrar algo que estava perdido aqui a algum tempo, a fantasia.


Faço este texto para eles, que criaram em mim vontade de voltar a escrever aqui. De repente um dia, alguém passando por esse blog por alguma coincidência da vida, encontrará aqui uma alma e enfim terei colocado naquela sacola mágica tudo que encontrei e desejei retribuir.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

incoerência

Em vão disponho palavras neste pedaço de papel,
do vazio extrair poesia,
nada,

faço metáforas,
ou metáforas tentam fazer a mim.

Leio, releio,
tento extrair sentido.

Não sinto,
estou anestesiada.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Espontaneamente

Fez-se esperança,
ela subitamente virou para trás.
Ele suspirou,
ela apenas abaixou-se
pegou a presilha e se foi.

Fez-se amizade,
Eles se encontraram no elevador,
Ela pintava os olhos
e não percebeu.

Fez- se humildade,
o rapaz correu até o semáforo
para ajudar a velhinha atravessar,
ela reclamava da vida ,
e não o acolheu.

Fez-se amor,
Ele já havia sofrido demais
e não reconheceu.

Fez-se nada,
Faz-se nada a cada manhã,
cada vez mais,
desaprendemos a sentir,
espontaneamente

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

"deixa que o sol te veja"

As vezes acontecem coisas na nossa vida que a gente não entende e talvez nunca vai entender, porque as pessoas que a gente gosta um dia tem que ir embora. É estranho, porque ao mesmo tempo que é a certeza que todos nós temos, é a verdade que nunca esperamos.
Nestes últimos dias, essa verdade bateu na minha porta, e por mais que eu não quisesse abrir, tem coisas que não podemos evitar. Afinal assim é o ciclo da nossa vida, biologicamente ou religiosamente pensando.
E no fundo, por mais que a saudade chegue a sufocar, cada pessoa que passa pela nossa vida, leva um pouco de nós e deixa um pouco de si. Felizmente, essas pessoas que se foram só deixaram coisas boas em mim, e espero que tenham levado coisas boas de mim também.
Nos últimos dias, enquanto protestos aconteciam no Egito, Big Brother na televisão, e o verão rachava minha janela, não senti vontade de me levantar da cama. Me agarrei nas minhas lembranças e me isolei do mundo ao meu redor por elas.
Ia até a praça e via pessoas sorrindo e minha vontade era pegá-las pelo pescoço e contar pra elas que não eram felizes, que eu havia sido feliz e esse sentimento pertencia apenas a mim e as minhas lembranças. Egoísmo.
Pela manhã o sol estava lindo como nos outros dias, mas foi diferente, resolvi abrir a janela e deixar o sol me ver, e sorri. Não sorri porque eu estava feliz, mas porque compreendi que devo voltar a ser feliz.
Estamos nesse mundo, não só por nós mesmos, mas por todos aqueles que caminham ao nosso lado, e se nós não tivermos forças, é por eles que devemos acordar e deixar o sol entrar todas as manhãs.
Quanto mais próximo estivermos, mais fortes seremos.
Meus sinceros desejos de dias brilhantes para cada um de nós.

Um abraço forte e especial para todos aqueles que de alguma forma estiveram comigo.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Vai voar meu querido pássaro


Certo dia conheci um pássaro. Quando ele se aproximou tive a certeza que teria um amigo para vida toda, e tive, aliás, tenho.

Entre tantos vais e véns da vida sempre que tinha um tempinho ou que sentia saudades voltava para reencontrá-lo e ele sempre me recebia com aquele sorrisão que é só dele.

Hoje senti saudades como nunca e corri para encontrá-lo, mas quando cheguei lá ele não estava. Chorei e sofri como nunca, até que pela primeira vez na vida me dei conta que pássaros tem asas e um dia vão voar.

Pensei que se eu soubesse antes que ele poderia voar teria trancado ele em uma gaiola pra guardá-lo sempre comigo, ainda bem que eu não sabia.

Hoje ele deve estar por aí voando em todas as imensidões que sempre quisemos conhecer levando aquele sorrisão pra imensidão azul.

Sinto falta. Penso nele todos os dias, mas um dia eu ganho asas, aprendo a voar e vamos nos reencontrar.


em memória de Gustavo Mascarenhas Barroso

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Desencontros


Sentiu cheiro de café. Mas não qualquer café, era o café dela. Repentinamente largou as flores e correu para a cozinha, mas não havia nada. Nem café, nem cheiro, muito menos ela.

Sofreu, aliás sofria há 20 anos, a medida que os anos passavam pensava cada vez mais nela, e ela era tudo que ele era capaz de lembrar. Desde aquela tarde que saiu para comprar cigarros e nunca mais soube voltar, não sabia mais seu nome, seu endereço, se era casado, se tinha filhos... sabia dela, apenas ela.

E uma coisa garanto, a pior dor é daqueles que não sabem, não se sabe se chora pela morte, não se sabe como procurar pela vida, nada.

Talvez ela pudesse ser uma das velhinhas que fazer tricot na sala ao lado, ou uma das velhas que roncam durante a noite e atordoam seus sonhos, até quem sabe já tenha cheiro de crisântemo, que cheira como a morte, quando se está morto.

E por não saber, chamou-a de margarida, bela como as flores que embelezam o abrigo imundo que guarda as memórias e as saudades daquelas tantas histórias escritas, vividas e esquecidas pelo alzheimer dos senhores e senhoras que ali residem.

Esperava todos os dias em frente ao portão por alguém que viesse te procurar, esse alguém sentaria e explicaria tudo que havia ocorrido naquela tarde e nos 20 anos seguintes, traria uma criança no colo e a apresentaria como Esperança, sua bisneta.

Em seguida explicaria que o nome da criança representava o sentimento da família em relação ao seu sumiço, contaria quanta falta ele havia feito como pai, marido e avó. Se abraçariam, voltariam para casa e ele jamais sofreria novamente.

Infelizmente, nem ao menos esperança ele nunca encontrou. Mas em uma tarde fria de outono, do sono após ao café, ele não acordou. Chamaram a ambulância, Dra. Esperança, bisneta de Margarida, correu para tentar salvar o velhote. Tarde demais, a angústia havia chegado primeiro.