sábado, 30 de novembro de 2013

tem goteira.




Ele levantou e a casa estava vazia. Forte odor de casas de veraneio. Não havia mais nenhum rastro dela.
Quando se deu conta, a casa inundava jatos de decepção. Tudo começou pingando pelos olhos, mas não foi suficiente. Ele já havia sido alertado que nessas ocasiões o coração transborda, mas nunca acreditou que seria desta forma.
Em pouco tempo já inutilizava o último móvel que restava na casa, o carinho. E já era tão tarde que as paredes da casa não aguentariam.
Eis que sem explicação começou a secar, lentamente, dia pós dia, jato após jato, voltou a gotejar. De toda aquela enxurrada restaram apenas grandes manchas na parede e goteiras.
Agora ele já entende quando lhe diziam que é mais duro acordar de um sonho que se sonha sozinho do que ver um amor ir embora.


Ele nunca mais soube dela.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Sobre a ausência

Problemas...
Desses assim, sem solução nenhuma, como a chuva que cai e molha a barra da calça.

De imitar as pessoas da rua,
dos avisos de obesidade.

De tudo sobre nós,
as coisas pequenas
são a grande falta.



segunda-feira, 23 de setembro de 2013

sobre o barulho do vento


...que atordoa meus ouvidos
e arrepia minha pele.

Sobre os faróis da Avenida Rio Branco,
que ofuscam minha visão
e confundem meus olhos.

Sobre essa gente,
que anda por aí sem saber pra onde vai.

Sobre o medo,
que impedem as pessoas de sair de casa

Sobre o desmatamento da Amazônia,
que acaba com a floresta e desgosta os indígenas

Sobre os mascarados e manifestantes,
e as novas resoluções do governo estadual

Sobre eu e você,
 as coisas que não foram ditas,
 os beijos que não foram dados,
os filhos que não virão.

O CAFÉ COM SUÍTA ESFRIA NA MESA DA SALA

...minha mente navega



                                             meu coração atraca.







domingo, 15 de setembro de 2013

vá para o mar, capitão!

Há muitos anos atrás construímos um barco. Tudo começou com uma pequena tábua. Gotas de amor e suor. Ele foi tomando forma, ficando grande, imponente e belo.
Olho pela janela e vejo o fruto do nosso trabalho. Ali está nosso barco! lindo, imponente, como sempre sonhamos.
Exceto por um pequeno detalhe.
Não podemos navegar! Nos dedicamos tanto a construir nosso barco que esquecemos de pensar quem nosso barco deveria suportar. Agora ele está pronto e não pode suportar nós dois.
Confesso que é dolorido vê-lo partir, mas VÁ PARA O MAR, CAPITÃO! Se não estaremos juntos, pelo menos sei que leva contigo o fruto de uma de nossas maiores realizações.
Eu ficarei aqui, do lado de dentro da janela, planejo construir um balão para voar por aí.


[talvez um dia nos encontremos no horizonte]

sábado, 24 de agosto de 2013

- Você vai aprender!
- Tem que resistir!
- Não pode deixar isso acontecer!
- Tem que ser forte...

...É com as mais imperativas palavras que se tentam reprimir os mais belos sentimentos.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Descubro o que é o amor todas as vezes que você vai embora.

Quando meus lábios formigam
escorrem lágrimas dos meus olhos e eu não consigo perceber.

As coisas que eu mais adoro fazer ficam extremamente sem graça,
e me lembro como era incrível comprar pão de manhã ao seu lado.

Descubro o que é amor quando você diz que não sabe se me ama,
sinto ele corroendo cada músculo e o pouco de força que ainda me restava.

Quando meus olhos brilham,
cobertos de água
e meu sorriso se apaga.

estar com você é a definição do amor.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Carta ao meu avô

Caro avô,

Hoje apanhei da polícia. Invadi o latifúndio do nosso vizinho. Sim, aquele vizinho que me oferecia jabuticabas e me chamava para assistir televisão a cores.
Me filiei ao Partido Comunista e estou lendo Karl Marx. Desculpe te decepcionar, mas não pretendo mais me casar, nem votar na direita. Na verdade, nem pretendo mais que existam eleições.
Quero que entenda se meu rosto aparecer nos noticiários, é mais forte que eu. Desculpe também se eu mostrar meus peitos na Marcha das Vadias, por favor não encare isso como uma ofensa ou uma afronta a moral da família.
Preciso te dizer que tudo aconteceu quando eu sai do ninho e caí aqui no meio desse caos. Foi quando eu vi a primeira mazela social que tudo mudou, e eu ainda nem sabia o que era isso.
Querido vovô, sinto que esta carta já deveria ter sido escrita há alguns anos, talvez assim agora você não fosse pego com tanta surpresa.
Não diga que é coisa da juventude, eu estou cheia deste argumento. Caso você resolva insistir, prontamente responderei que se assim é, que eu serei eternamente jovem.
Ao fim, te peço um daqueles pedidos de netas que avô nenhum é capaz de negar: venha comigo! Deixe me mostrar outra possibilidade, por anos ouvi todos seus conselhos e segui todos seus princípios, deixo te mostrar um pouco de tudo que tenho vivido por aqui.
A verdade é que somos iguais, e o que me move é o desejo de transmitir a todo mundo, tudo que recebi de você.

Com amor,
Neta.


sexta-feira, 5 de abril de 2013

As vezes o amor não é suficiente,
O que resta é a poesia, o porre ou a compreensão.


sexta-feira, 8 de março de 2013

Repescagem

no ar se mancha e desmancha.
Cê chora e sorri, e sou incapaz de fazer nada.
Cê morre por amar demais e possuir pó branco desconhecido pela casa.

E todo mundo que diz tudo sem dizer nada.
Procuro pessoas que dizem tudo sem falar nada.
E pensei encontrá-las perdidas por estas bibliotecas empoeiradas da América Latrina.

Me disseram que habitavam o velho mundo
Ora pois, quem há de habitar o velho quando o pensamento é novo.

Estou farta de poeiras,
Mas não suporto a falsa ganância do novo,
Por favor me deixem respirar.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Noite assim como a de hoje, o cenário era o Aterro do Flamengo. Caminhei em direção a areia em meio a ondas, lixo e ratos brancos.

Um menino corria em minha direção, imaginei que era um menino, só reconhecia um borrão correndo em minha direção.

Ele rodopiava pela areia da praia, o que causava vertigem.

Eu sentia medo por ele estar perdido

Ele mais encontrado do que nunca

Eu senti medo por estar perdido

Ele ria de mim

Rodopios cada vez mais

(in)tensos


Quando dei por mim,
ou por ele,
o menino era eu.