terça-feira, 13 de julho de 2010

dualidade

Hoje eu chorei, e foi de raiva. Porque raiva é o que eu sinto quando vejo essa podridão toda e estou de mãos atadas, eu sei que sou maior, e é isso que me mata, porque ser maior não basta.
Eu sofro por ter o mundo engasgado na garganta e minhas cordas vocais simplesmente falharem.
Sou menina por ter pensamentos inimagináveis e mulher por ter papas na língua.
Guardo minhas vontades pros meus sonhos e me delicio com meus pensamentos. Mas quando desço do ônibus, quando ando pelas ruas, sou apenas mais uma menina pequena, com enormes óculos escuros, para que ninguém possa me ver.
E mesmo que pudessem me ver, jamais saberiam o que se esconde através dos meus olhos, jamais saberiam que além daqueles olhos cansados e rosto sério existem borboletas e fadas dentro de mim.
Borboletas que se agitam impacientemente toda vez que eu tento falar, e eu com medo de perdê-las, fecho-se em meu corpo e meu mundo.
Sinto-me duas, eu mesma e aquela que interage com o mundo, não entendo porque, mas não entendemos muito bem. Porque aquela que vive no reino das borboletas é apenas mais uma no meio da multidão?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

entre eu-fui eu-sou eu-vou

Levei minha alma pra passear.
Deixei o meu corpo descansando em frente ao espelho,
Quando voltei,
Tinha uma estranha no lugar.

Decidi voltar a todos os lugares que já estive na minha vida,
em algum deles eu haveria de estar.
mas eu não estava...

Pensei no lugar que eu mais queria estar no mundo,
e lá estava meu corpo
foi aí que eu entendi tanta coisa...
desde que comecei esse poema não sou mais a mesma pessoa,
nem agora...
nem agora...



nem agora!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

meus onze anos

Tudo começou ontem a tarde. Fui ao Rio Sul comprar uma calculadora e tinha uma mãe com uma criança de uns cinco anos com uma espécie de macaco nas costas, era tipo uma mochila, mas na verdade era uma coleira, tinha um fio que se prendia a mão da mãe e que ela puxava cada vez que a criança se afastava dela mais de um metro e meio.
Não pude deixar de lembrar das inúmeras vezes que me escondi no meio das prateleiras do shopping e minha mãe ficava minutos desesperada me procurando por todos os cantos achando que eu havia sido sequestrada, e eu ali escondidinha com a barriga doendo de tanto rir, ah como era bom!
Comecei a pensar em como as coisas eram antes. Lembrei dos tempos que chegava da escola e brincava na rua, andava de bicicleta, jantava com meus pais, lia meus livros... Hoje chego em casa e ligo logo o notebook,então não tenho tempo pra mais nada, preciso atualizar o Twitter, ver meus recados no orkut, ler os e-mails, o facebook.. Até jantar, tenho jantado em frente ao computador, porque nesse meio tempo posso perder milhões de coisas interessantes que se passam pelo mundo virtual... Concentro tanto tempo tentando mostrar o que eu fiz para as pessoas, que acabo não fazendo nada...é como se eu fosse agente passiva da minha própria vida.
Parafraseando Nando Reis, senti que o mundo estava ao contrário e ninguém havia reparado, senti saudades da infância dos meus pais, queria que meu pai um dia contasse para os meus filhos que colocou a polícia atrás de mim uma noite que eu sumi mais de doze horas, mas hoje mesmo há 12 horas de distância física meu pai sabe até se eu fui na padaria, basta ligar pro meu celular...
Sinceramente, sinto medo em pensar como serão as coisas com meus filhos, tenho até medo de ter filhos, quero ter filhos que brinquem na rua, que se escondam no shopping, que saibam soltar pipa; mas sinceramente não sei se o mundo está preparado pros meus filhos... Na verdade, não sei se não estou preparada pro mundo ou se é ele que não está preparado para mim.

domingo, 4 de julho de 2010

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Ontem recebi um recado seu. Um misto de sentimentos estranhos tomaram conta de mim. Quis perguntar se estava tudo bem, mas sabia que não estava.
Senti culpa por olhar minhas fotos alegres, enquanto em você só havia sombra e solidão, era como se você tivesse ficado esquecido naquele hall da entrada dos elevadores. A vida escorrendo pela minhas mãos, enquanto mal pingava pelas suas.
Não sei qual é o comprimento do seu cabelo, sua música favorita, talvez eu nem te reconhecesse na rua, as lembranças que tenho de você são apenas as das fotografias. Como pude me deixar perder você? Logo você que sempre foi tão especial.
Queria te perguntar como vai a vida, as amizades, os porres da faculdade, todas aquelas coisas boas que tem passado na minha vida. Aí se pudéssemos dizer como a vida é boa e fazer planos de viagens. Mas não dá, estou estática há 28 minutos diante do seu recado e não consigo escrever nada mais do que um olá.
Perdoe-me por não ter estado contigo e por ter sido tão fraca, por ter ido embora sem ao menos lhe dizer adeus. Só agora percebo o quão egoísta fui conosco.
Queria mais do que nunca voltar a aquele ano de 2003, te pegar pelo colo e te garantir que eu jamais lhe abandonaria novamente. Queria te levar pro Rio, pra São Paulo e para o infinito comigo.Queria te contar que voei, sem sentir culpa por saber que você estava enclausurado. E agora sei como você se sentiu, porque apesar de livre sinto-me presa em mim mesma.
Coloquei nossa música pra tocar, desde aquele recado já se passaram oito dias, penso nele todos os dias, sofro por ele todos os dias, e onde quer que eu vá, com quem quer que eu esteja, me sinto vazia. E esse é o pior vazio que alguém pode sentir, porque eu sei que ele não vai passar... ainda que eu volte a aquela casa, ainda que eu deixe meus cabelos crescer e volte a gostar de skate, eu não serei mais a mesma, e você também não será mais o mesmo, porque um dia, eu te esqueci e nada nunca vai poder mudar isso.