segunda-feira, 10 de junho de 2013

Carta ao meu avô

Caro avô,

Hoje apanhei da polícia. Invadi o latifúndio do nosso vizinho. Sim, aquele vizinho que me oferecia jabuticabas e me chamava para assistir televisão a cores.
Me filiei ao Partido Comunista e estou lendo Karl Marx. Desculpe te decepcionar, mas não pretendo mais me casar, nem votar na direita. Na verdade, nem pretendo mais que existam eleições.
Quero que entenda se meu rosto aparecer nos noticiários, é mais forte que eu. Desculpe também se eu mostrar meus peitos na Marcha das Vadias, por favor não encare isso como uma ofensa ou uma afronta a moral da família.
Preciso te dizer que tudo aconteceu quando eu sai do ninho e caí aqui no meio desse caos. Foi quando eu vi a primeira mazela social que tudo mudou, e eu ainda nem sabia o que era isso.
Querido vovô, sinto que esta carta já deveria ter sido escrita há alguns anos, talvez assim agora você não fosse pego com tanta surpresa.
Não diga que é coisa da juventude, eu estou cheia deste argumento. Caso você resolva insistir, prontamente responderei que se assim é, que eu serei eternamente jovem.
Ao fim, te peço um daqueles pedidos de netas que avô nenhum é capaz de negar: venha comigo! Deixe me mostrar outra possibilidade, por anos ouvi todos seus conselhos e segui todos seus princípios, deixo te mostrar um pouco de tudo que tenho vivido por aqui.
A verdade é que somos iguais, e o que me move é o desejo de transmitir a todo mundo, tudo que recebi de você.

Com amor,
Neta.