domingo, 13 de junho de 2010

aurora

Hoje eu acordei mais cedo, queria ver o sol nascer.
Logo eu que sempre gostei tanto de dormir, acordei inquieta e com um frio insuportável que só a aurora matinal poderia confortar.
Andei até a Enseada de Botafogo, fazia um frio enorme, e pelas ruas só haviam aqueles que meu pai sempre me alertou, as putas, os bêbados e os andarilhos. Cada um na sua devida solidão,como se não existisse mais nenhuma pessoa ao seu lado, ou até no mundo. Era assim que eu me sentia.
Sentei na areia, meus cabelos esvoaçavam até meus lábios, pensei em tirá-los, desisti, aquele momento e aqueles cabelos dariam uma bela fotografia; não que eu tivesse uma câmera, na verdade, nem queria ter uma câmera, era um momento meu, e eu queria dividí-los apenas com meus olhos míopes.
Primeiros raios do sol, o frio que eu sentia se converteu instantaneamente em arrepio, é impossível descrever tudo que eu senti naquele momento. Sabia apenas, que eu havia encontrado não sei o que, mas era o que eu procurava.
Fiquei contemplando o sol dar seu espetáculo matinal, nada mais me importava, nem as águas sujas que molhavam meus pés. Permaneci ali imóvel o dia inteiro, não senti vontade de mais nada além de olhar pra ele.
Quando amanheceu, acordei, embaixo do meu edredon, em minha cama quentinha, o sol brilhava maravilhosamente, e eu havia sonhado com ele a noite inteira, queria muito ter visto aquele nascer do sol, mas não deu,estava frio e eu não gosto de acordar cedo.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

desilusão...

O inferno me pareceu bagunçado demais,
e senti certa raiva daquela calmaria que encontrei no céu.
e quando menos percebi encontrei tudo que eu buscava naquela sua cozinha.

O fogão sujo
e aquela pilha de louça sobre a pia.
senti nojo, muito nojo.
Mas era um nojo que me fazia querer ficar.

Continuaria ali
um dia, um mês, quiçá minha vida inteira
com aquele caldo de feijão seco e grudado na lateral do prato,
você sorrindo sem graça
e oferecendo água naquela garrafa com cheiro de Coca Cola

Tive que ir embora,
mas prometi voltar
e voltei...
Mas a cozinha estava brilhando
e a pia vazia...

Senti vontade de ir embora,
nada mais ali fazia sentido
aquele você que eu amava,
havia ido embora pelo ralo
em meio as espumas e sujeiras,
que eu tanto admirava.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

464 histórias pra contar

Praia de Botafogo, seis horas da noite, ônibus lotado.
Que tal um pouco de teoria sociológica? Ler Gilberto Freyre não me faz bem enquanto tem um suvaco fedido acima da minha cabeça.
Romance? O que pode ser excitante enquanto o ônibus saculeja e as pessoas caem em cima de você.
Talvez um pouco de música? Não, o "nem" lá de trás já se encarregou de tal incumbência.
Observar a paisagem, parece que convém.
E lá está ela, suja e linda.
A enseada de tantos poetas, tantos músicos, tantos músicos e poetas.
A mulher ao lado me cutuca, quer reclamar da vida.
NÃO FODE!
A mim já cabe minhas infelicidades, não preciso saber a de mais ninguém.
Engraçado, como ninguém te cutuca pra dizer que está feliz, ou seja, a menos que seja pra me contar que ganhou na loto ou vai se casar, não me cutuque, porque eu não quero saber.
A moça se levanta, senta um velhinho no lugar, me oferece uma caneta, a essa altura já fingi que voltei a estudar, é a melhor maneira de se tentar cortar um assunto. Aceito a caneta, obrigada. Logo em seguida, o esperado, um cartão de uma dessas igrejas neo-pentecostais, Tipo I Igreja do Canfundé do Judas, minha mãe sempre fala que estou precisando de Deus... Obrigada sou ateu.
Mais um que se vai... A essa altura já estou na Praia do Flamengo.
Volto a olhar a paisagem, pessoas jogam bola e o clima parece bem agradável, quem dera eu pudesse estar ali também, pensei em descer do ônibus, tomar uma água de coco, não dá, tem trabalho de CRB.
Agora senta um "nem" do meu lado, o "Relaxa e quica" adentra meus ouvidos de uma maneira que eu penso que meus tímpanos vão estourar, maldito infeliz que inventou caixa de som em celular, bons tempos quando cada um vivia feliz com seu walkman. Ao pensar isso, me senti velha e ranzinza, sobretudo, porque tinha um grupo de estudantes fazendo a maior algazarra no banco de trás, e eu estava achando tudo aquilo um porre. Logo eu, a líder da bagunça.
Ufa, vagou lugar lá no fundão, o "nem" vai pra lá e leva a turma com ele, enfim paz.
Um velhinho com aspecto de cansado senta ao meu lado, ele está dormindo, maravilha, a esta altura já estou na Lapa e o ônibus praticamente vazio. Ele começa a roncar, legal, pelo menos não tá me enchendo, fim da Men de Sá, preciso descer tio...
-Tio, Tio, Tio.....
silêncio.
ah, legal passou do meu ponto.
Filho da puta, vou ter que andar pra caramba..
Pegar o ônibus as 18h, me deixa velha e ranzinza...
e amanhã tem mais.