quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Manifesto contra o sofrimento





É porque a gente sofre demais. Sofremos pelas contas que vão vencer, pelo trabalho que se aproxima da data de entrega, pelo farol vermelho quando estamos com pressa, pelas relações que não fazem sentido.
Resolvi fazer uma retrospectiva das lágrimas que caíram nos últimos 365 dias e cheguei a conclusão de que boa parte dessas coisas já não me doem mais, ou talvez nunca tenham doído como meu coração insistia em alertar.
Enquanto escrevo isso, uma pequena faixa de sol atravessa a cortina e ilumina a parte esquerda do meu corpo. Penso que a vida é boa, ou talvez esteja boa, não sei ao certo. Resolvi que de agora em diante não vou mais sofrer, já tenho uma estratégia.
Quando eu era criança, logo depois que tivemos nossa casa assaltada, eu tinha pavor de que os bandidos voltassem para buscar a gente. Sempre olhava para o lustre do meu quarto e tinha certeza de que lá havia uma arma escondida, que cedo ou tarde deveria ser recuperada. Vivi nesse pesadelo por alguns meses, então eu decidi que sempre que esses pensamentos me viessem a cabeça eu deveria pensar num fundo branco, por mais que eles insistissem, mas eu deveria focar no fundo branco,  ele me traria paz e o sono.
Talvez a tela branca também funcione quando você tem 24 anos de idade, acho que basta que eu acredite que não há pensamento que prevaleça ao fundo branco.
Portanto, fica estipulado que a partir de hoje não haverá mais sofrimento. Esta palavra foi banida do meu dicionário e não habitará novamente esse mundo mental, também nesse mesmo impulso declaro criado o "embranquecer" do significado, restaurar a paz.

domingo, 19 de outubro de 2014

Sobre errar e tardes de domingo

Foi numa tarde de domingo ensolarada, embora não tão quente como o dia de hoje. Eu e meu avô debruçados no parapeito da janela, assistindo a vida passar. Meus olhos cheios de lágrimas evidenciavam a primeira grande dor de um garoto que nunca seu deu ao luxo de falhar, a primeira nota baixa no colégio. Jamais me esquecerei daqueles olhos grandes me dizendo: “fique tranquilo meu filho, existem alguns erros que só cometemos uma vez!”.             
Talvez eu tenha demorado alguns anos para entender o significado dessas palavras, embora não tenha mais degustado o sabor de uma nota baixa durante toda a vida escolar. Fato é que desde que entendi as palavras do meu avó, me permiti errar uma vez.
Se eu pudesse fazer um desejo hoje, pediria apenas mais alguns instantes como aquele na janela do meu avô. Preciso perguntar-lhe como lidar com os erros que acontecem duas, três e outras tantas mais na vida. Queria saber sua opinião sobre esses erros que as pessoas cometem quando estão ficando adultas e sobre aqueles que idade nenhuma parece que vai corrigir.                                     
Por fim e não menos importante, gostaria de saber porque as tardes de domingos andam tão mais quentes e porque não há mais bananada na venda da esquina. 


segunda-feira, 28 de julho de 2014

Todo barco tem seu cais


A sala da casa do Neruda tem formato de casco de navio. Me contou um desconhecido em Santiago há exatamente um ano atrás. Em seguida ele me explicou que Neruda se apaixonara por navios desde sua primeira viagem ao exterior e desde então passara a vida rodeado de barcos.
Me senti Neruda. Como se já não bastasse nosso romantismo dramático latente, agora tínhamos um amor em comum.
A verdade é que quase nunca tive medo de mudanças, exceto uma vez. Foi na terceira série, ao final das apresentações natalinas de turma, chorei muito. Tinha pavor de pensar no ano seguinte em uma nova escola e em deixar aqueles amigos para trás.
No ano seguinte tudo correu bem. Ruborizo em assumir que não me recordo nem dos nomes dos colegas daquela tão amada turma.
Depois desse episódio, tudo foi diferente. Poucos anos se passaram e muitos outros mares foram navegados.
Penso em Neruda. O vejo debruçado em um daqueles grandes navios que viajam da América para a Europa.
Penso em mim. Me vejo em um barquinho modesto e aconchegante como aqueles que atracam na mureta da Urca. Lembro de um em especial. Sou pequena como ele, ainda não suporto grandes viagens como o velho Neruda. É que as vezes preciso voltar para o meu cais.
Sempre soube que um bom navegante é forte e decidido. Nunca deixa escapar suas fraquezas, mas hoje quero assumir o quanto é doloroso partir com o navio do cais.
Cada vez que esse barco deixou o cais, lágrimas silenciosas inundaram toda sua superfície. Confesso que tantas vezes dei a volta no timão no sentido de regressar.
Então pensava o que seria do mar se todos os navegantes voltassem para o cais. Conclui que o mar precisava dessas lágrimas e eu precisava desse mar.
Agora pela tarde navega meu barquinho. Pensando na próxima parada e aguardando o próximo retorno.


Para todos aqueles que sempre estarão no cais aguardando meu barquinho.

sábado, 31 de maio de 2014


Pilhas de livros e artigos acadêmicos dividem o espaço do quarto com porpurina e planos de set de gravação. Diversos tipos de musicas executadas pela caixa de som do notebook.
Tomo banho de porta aberta enquanto penso na descriminalização das drogas. Meus pés fazem um passo desengonçado.

É sábado a noite e toda essa confusão me define,

(aprendi)
basta ser leve.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

      Complica

(Des)_ _ _ _
      
       compl
                eto

fica.
      

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

ensaio sobre a timidez

Tem a ver com os raios que emitem os olhos. Destes que invadem e revelam o palpitar do coração. É sobre transbordar de luz e sugar energia.
Desde pequena sempre me questionaram porque olhar tanto para baixo? qual a razão de desviar o olhar? Por um instante paro, me assusto, ruborizo.
Direciono os olhos para o redondinho da ponta do nariz, aquele ponto circunferencial que separa os temidos olhos.
Me concentro no olhar.
Me perco na conversa.
Lá pelas tantas, quando meu incômodo já não suporta mais, lembro da frase que diz que os olhos são a janela da alma,
Olho no espelho, cortinas translúcidas cobrem meus olhos.
Daqui de dentro vejo tudo, sinto tudo, você que não é capaz de ver.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

calor

Sofrimento se fez água,
tempestade fez-se de onda.

PEGUEI UM JACARÉ E FUI

já na areia, sentindo os arranhões do mergulho,
julguei conveniente outro banho de mar.