terça-feira, 24 de agosto de 2010

amores expressos

Mas era inverno. Embora o sol insistisse em brilhar intensamente. Ela acordou sentindo um gelado na garganta, em vão tentou encobri-lo com um cachecol, o que ela não sabia é que coberta nenhuma esquenta frio de espírito.
Pegou seu ônibus lotado, neste momento visualizou um rapaz sentado no banco ao seu lado. Fitou rapidamente e o fervor em sua garganta foi praticamente instântaneo. se olharam.
Gentilmente ele ofereceu para segurar sua bolsa, não estava pesada, mas ela não hesitou, entregou-lhe a mochila e seu sorriso.
Eis que o ônibus dá uma brusca parada, e os pés se entrelaçam casualmente, se olham mais uma vez, e neste momento se amam como nunca, ou talvez como sempre. Eles se desejam.
Quando ela se dá conta, o ônibus já está vazio, e com vários assentos vagos. Pega sua bolsa, agradece ao rapaz, e se dirige a poltrona mais próxima.
No ponto seguinte, ele desce e ela não sofre, mas sente um imenso alívio, porque acabara de descobrir que ainda era capaz de amar.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Estamos Juntos?

Por mais perturbador que possa parecer este é o slogan da campanha do governador Sérgio Cabral.
Passei hoje pelos arredores do Complexo da Maré e me assustei com a quantidade de propagandas políticas afixadas no local. Faixas e cartazes ocupavam praticamente quase todo o perímetro visual, só não conseguiram ocupar o esgoto a céu aberto que passava logo embaixo, os barracos construídos com placas de papelão e a montanha de lixo que beirava o esgoto.
Senti nojo, mas não foi do lixo, nem do esgoto, muito menos dos barracos. Foi dos sorrisos falsos daqueles senhores que só aparecem a cada quatro anos, fixam um poster vão embora, e voltam dali a quatro anos, tiram fotos sorrindo, abraçam pessoas, apertam mãos trabalhadoras, e vão embora novamente.
Porque na hora de cuidar do lixo, na hora de se preocupar com esgoto, com moradia digna, com escola de qualidade. eles somem. E ainda mandam terceiros subir morro com caveirão, tiram emprego dos trabalhadores em nome da "Ordem". Estas coisas me deixam em choque!
Tinha inclusive cartaz do senhor Minc, acima do esgoto, logo ele tão preocupado com as questões ambientais, acho que deveríamos contar pra ele quantos anos demora para a natureza decompor aquele tipo de plástico, ele deve ter faltado esta aula.
Sinto vergonha das coisas que acontecem neste país, e raiva de saber que no próximo dia 3 de outubro eu e mais milhares de brasileiros, temos a obrigação de ir as urnas escolher um destes sorrisos falsos, e ainda se orgulhar da nossa "democracia".
Francamente Sérgio Cabral, não seja ridículo, não diga que estamos juntos, porque ainda nem esquecemos o que você falou para o menino Leandro. Se você está ao lado de alguém é da corrupção, da mal caratice e da falta de vergonha na cara, ao lado do povo que você não está.
Já dizia minha falecida avó, "antes só do que mal acompanhado", por isso, senhor governador, eu não estou com você e espero que no próximo dia 3 de outubro, ninguém esteja.

O link do vídeo de Sérgio Cabral , Lula e o menino Leandro:
www.youtube.com/watch?v=VIKT5CEgnqs&NR=1

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Comodismo

Era apenas mais uma manhã. Ele acordou, tomou seu café sem açúcar e leu o jornal diário. Considerou todas aquelas notícias uma merda, todos os dias ele considerava uma merda.
Pegou o mesmo ônibus lotado de todas as manhãs, reclamou da vida com o sujeito que entretido com seu aparelho de som não escutava.
Abriu seus e-mails, e reclamou mais uma vez. Quinze e-mails da mesma corrente, pensou como essa gente era idiota. Como se salvaria o mundo encaminhando aquela porcaria para no mínimo quinze pessoas? Mas isso não era o pior, sabia que no fundo havia recebido aquele e-mail de quinze pessoas que acreditaram na frase maiúscula e vermelha que dizia que Samara visitaria sua cama caso aquilo não fosse repassado ao menos para uma pessoa. Sentiu ódio, desligou o computador e resolveu tomar mais um café.
Na Cafeteria as pessoas olhavam obcecadas para um daqueles casos sensacionalistas que passam na televisão. Desta vez sentiu desprezo por aquela massa de imbecis que não tinham nada de útil para fazer além bisbilhotar e se comover com a vida alheia. Desistiu do café.
Acendeu um cigarro, lembrou dos tempos de faculdade, lembrou da raiva que sentia com a desilusão dos professores em relação ao mundo e pela primeira vez viu sentido naquilo tudo, e isso o incomodou profundamente.
Voltou ao trabalho, fez o que fazia todos os dias.
Chegou em casa, levou o cachorro pra passear. Neste momento sentiu um amargo na garganta, resolveu dividir tal aflição com uma garrafa de whisky, e conforme as doses aumentavam, o amargo se intensificava.
Percebeu que era tão passivo quanto todos aqueles que repudiava, de que havia adiantado os anos na Academia, as reflexões, as resenhas, os seminários, porque no fundo havia se passado mais um dia e ele não havia feito nada. O whisky passou a descer cada vez mais amargo e sentiu vergonha de si mesmo, vergonha por reclamar de tudo, por estar bêbado, por ter gasto o aluguel naquele whisky, por fazer tudo aquilo que repudiava, mas sobretudo, mais do que todos os outros, por ter esquecido de todos os ideais que tanto prezava quando era jovem.