terça-feira, 16 de maio de 2017

Calma Martha, você está de cabeça quente.
Diga mamãe, Martha. mã- mãe,Agora papai...
Onde pensa que vai essa hora, Martha?
Martha, tenha modos, você não parece uma mocinha!
Tem que fazer faculdade sim, hoje em dia as mulheres já são independentes.
E os namorados?
Martha, não demonstre fraqueza perante os homens, seja fria com ele!
Mas de novo você fez isso, mulher? Quando vai aprender.

Martha estava tonta com tantos comentários. Já eram quase três décadas de conselhos, dicas e obrigações. Quis silêncio. Sentou no topo da montanha mais alta do vale em que nunca ninguém frequentava. Lá do alto as vozes continuavam, cada vez mais altas e mais fortes até que passou a senti-las no próprio corpo. Assustou-se quando os lábios dormiram e as mãos não executavam os movimentos que o  cérebro pedia que fossem realizadas. E as vozes ainda mais altas.
Ela ainda não sabia nesse momento que a pessoa que mais exige de nós, é aquela que nos deparamos quando estamos diante do espelho. Eu já sabia, e queria contar a Martha, mas ela não ouvia.

A verdade é que Martha sofria de excesso de audição externa. É uma doença crônica que afeta uma parcela significativa da população mundial.  Aliás, isso me lembrou uma conversa com uma amiga querida, que uma vez disse que as pessoas tinham dificuldade de ficar sozinha sem fazer nada pois tinham dificuldade de lidar com elas mesmas.

Mas, vamos voltar a Martha. Gostaria que ela sofresse menos pensando no que as pessoas estão pensando. Gostaria que não doesse no corpo dela, e nem daquela parcela toda da população mundial. Fico pensando qual foi o momento que a sociedade deixou esse trilho desandar. Será que os primeiros seres humanos sofreram de ansiedade? Ou foi na época dos meus tataravós? Será que é coisa mesmo da nossa geração? Fugi novamente de Martha. Mas nesse momento fiquei sabendo que as coisas se acalmaram.



INtensidades



Gosto do café 9 da escala de 11 cafés. Tem dias que pedem um café 11. Nos remelexos da vida, costumo assustar por optar pelas (in)tensidades.
Amar como se fosse o último, sentir raiva como se fosse a pior coisa da vida. Das intensidades que transformam os abraços das visitas quinzenais os mais calorosos e acalentadores.
Das saideiras de cerveja que nunca são a última. Tudo até a ÚLTIMA gota. Até vazar, até secar, até transbordar...
Para que derrube o copo. Gosto de derrubar copos. No minuto, no dia seguinte, no mês ou no ano seguinte, me refaço.
Por inteira.
sofro. sofro muito. Se o preço do kilo do tomate voltou a subir, se o ônibus parou depois do ponto, se o amigo distante está doente.

Sinto.

Sou humana.

Estou viva.