domingo, 19 de setembro de 2010

A Fer

20 primaveras.
- Sem carteira de motorista! Lembra minha mãe...
- E o namorado? Sempre indaga minha avó.
Prefiro pensar por mim mesma o venha a representar 20 primaveras. Mas não deixa de ser engraçado. Quando eu tinha dez, me imaginava uma mega jornalista preparando-se para o casamento, impossível não rir me mim mesma pensando nessas coisas, até porque esses sonhos hoje eu chuto lá pra casa dos quarenta...
Quando tinha uns dezesseis anos passei a pensar a idade em viagens, tipo, quando tiver 20 anos já vou ter conhecido uma boa parte do Brasil e um pouquinho do mundo; tá legal, neste ponto até avancei, mas ainda conheço só um pouquinho de Brasil e nada do mundo, quem sabe lá pra casa dos quarenta...
Tudo isso me lembra como eu não faço planos pro presente, e como meu pai acha isso um absurdo, posso ouvir o "você tem que ter foco, Fernanda" "foco" "foco", não consigo imaginar como teria sido minha vida se eu tivesse tido foco desde os catorze anos, desculpa pai, mas agradeço por não ter tido.
Será que eu vim na caixinha de fósforo como o Cidão já tinha me alertado? Possível, minha estatura seria inclusive uma prova empírica de tal fato. Ou eu caí de alguma cegonha por acaso lá em casa?
Lá em casa, todos tem belos e longos planos a pequeno, médio e longo prazo, mesmo que estes sejam juntar 80 reais pra se tornar membro da torcida organizada do Corinthians, mas são planos, não são?
Não gosto de igreja, de carros e de todas aquelas outras coisas normais que minha família gosta.
Tenho 20 anos e meu patrimônio se resume a um notebook que ainda faltam 3 parcelas para serem pagas, uns 25 livros bem especiais, e um albúm de fotografias dos momentos importantes da minha vida.
Mas no fundo, sou feliz com isso, com minhas vinte primaveras, meus vinte e cinco livros e minha família convencional, mesmo que eu seja um brinde de caixa de fósforos.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

sono

Tarde na praia. Duas mesas.
Na primeira, um casal, um violão e Chico. Logo ao lado um grupo de jovens, um iPod e Los Hermanos.
Sinto um profundo incômodo, penso que aquela confusão linguística e sonora me atormenta. Doce ilusão. Percebo que me irrito com a mistura do novo e o velho, não sei se sinto raiva dos velhos retógrados ou dos jovens e o progresso. A verdade é que não sei o que quero ouvir. E a partir daí esta se torna uma questão de ser.
Não me sinto velho, tampouco jovem e não consigo me conformar em não ser nada. Resolvo me aproximar dos jovens. Ouvindo todos aqueles pensamentos idealistas desconcentro-me com o acorde sufocado do violão ao lado, era certo, não era mais jovem.
Me aproximo do casal, todo aquele ceticismo e racionalidade me incomodam, e mesmo durante os assuntos que me interessavam me perdia ao som das risadas dos jovens.
Me afasto das mesas, percebo que em uma delas era eu, na outra provavelmente serei eu. Sinto-me perdido no tempo, eu nunca acreditei no presente, pois já é passado, e se ainda não pensei é futuro. Então quem sou eu?
Procuro me situar no tempo, olho para o céu, e nem o sol pode me orientar, o dia está nublado, estou aqui há três dias ou há três anos. Não sei. Me perdi do relógio ou do calendário, mais que isso, me perdi de mim mesmo, estou aflito, mas não sei se quero me achar.