quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Vai voar meu querido pássaro


Certo dia conheci um pássaro. Quando ele se aproximou tive a certeza que teria um amigo para vida toda, e tive, aliás, tenho.

Entre tantos vais e véns da vida sempre que tinha um tempinho ou que sentia saudades voltava para reencontrá-lo e ele sempre me recebia com aquele sorrisão que é só dele.

Hoje senti saudades como nunca e corri para encontrá-lo, mas quando cheguei lá ele não estava. Chorei e sofri como nunca, até que pela primeira vez na vida me dei conta que pássaros tem asas e um dia vão voar.

Pensei que se eu soubesse antes que ele poderia voar teria trancado ele em uma gaiola pra guardá-lo sempre comigo, ainda bem que eu não sabia.

Hoje ele deve estar por aí voando em todas as imensidões que sempre quisemos conhecer levando aquele sorrisão pra imensidão azul.

Sinto falta. Penso nele todos os dias, mas um dia eu ganho asas, aprendo a voar e vamos nos reencontrar.


em memória de Gustavo Mascarenhas Barroso

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Desencontros


Sentiu cheiro de café. Mas não qualquer café, era o café dela. Repentinamente largou as flores e correu para a cozinha, mas não havia nada. Nem café, nem cheiro, muito menos ela.

Sofreu, aliás sofria há 20 anos, a medida que os anos passavam pensava cada vez mais nela, e ela era tudo que ele era capaz de lembrar. Desde aquela tarde que saiu para comprar cigarros e nunca mais soube voltar, não sabia mais seu nome, seu endereço, se era casado, se tinha filhos... sabia dela, apenas ela.

E uma coisa garanto, a pior dor é daqueles que não sabem, não se sabe se chora pela morte, não se sabe como procurar pela vida, nada.

Talvez ela pudesse ser uma das velhinhas que fazer tricot na sala ao lado, ou uma das velhas que roncam durante a noite e atordoam seus sonhos, até quem sabe já tenha cheiro de crisântemo, que cheira como a morte, quando se está morto.

E por não saber, chamou-a de margarida, bela como as flores que embelezam o abrigo imundo que guarda as memórias e as saudades daquelas tantas histórias escritas, vividas e esquecidas pelo alzheimer dos senhores e senhoras que ali residem.

Esperava todos os dias em frente ao portão por alguém que viesse te procurar, esse alguém sentaria e explicaria tudo que havia ocorrido naquela tarde e nos 20 anos seguintes, traria uma criança no colo e a apresentaria como Esperança, sua bisneta.

Em seguida explicaria que o nome da criança representava o sentimento da família em relação ao seu sumiço, contaria quanta falta ele havia feito como pai, marido e avó. Se abraçariam, voltariam para casa e ele jamais sofreria novamente.

Infelizmente, nem ao menos esperança ele nunca encontrou. Mas em uma tarde fria de outono, do sono após ao café, ele não acordou. Chamaram a ambulância, Dra. Esperança, bisneta de Margarida, correu para tentar salvar o velhote. Tarde demais, a angústia havia chegado primeiro.