terça-feira, 13 de julho de 2010

dualidade

Hoje eu chorei, e foi de raiva. Porque raiva é o que eu sinto quando vejo essa podridão toda e estou de mãos atadas, eu sei que sou maior, e é isso que me mata, porque ser maior não basta.
Eu sofro por ter o mundo engasgado na garganta e minhas cordas vocais simplesmente falharem.
Sou menina por ter pensamentos inimagináveis e mulher por ter papas na língua.
Guardo minhas vontades pros meus sonhos e me delicio com meus pensamentos. Mas quando desço do ônibus, quando ando pelas ruas, sou apenas mais uma menina pequena, com enormes óculos escuros, para que ninguém possa me ver.
E mesmo que pudessem me ver, jamais saberiam o que se esconde através dos meus olhos, jamais saberiam que além daqueles olhos cansados e rosto sério existem borboletas e fadas dentro de mim.
Borboletas que se agitam impacientemente toda vez que eu tento falar, e eu com medo de perdê-las, fecho-se em meu corpo e meu mundo.
Sinto-me duas, eu mesma e aquela que interage com o mundo, não entendo porque, mas não entendemos muito bem. Porque aquela que vive no reino das borboletas é apenas mais uma no meio da multidão?

5 comentários:

Arthur disse...

Terminei a leitura com um sorriso de reconhecimento no canto da boca... =D

Clarissa R. disse...

querer se manifestar e não poder, não porque alguem ou algo te impede, mas porque você mesmo se impede por causa de diversos fatores que compõe a nossa sociedade, como vc mesma disse, podre. acho que eu te entendo. O discurso de "você pode fazer a diferença" já é tão ultrapassado quanto a vontade de faze-la de fato, acho que por isso temos medo de perder nossas borboletas.

Rafael Spínola disse...

"O filósofo chinês Chuan Tzy sonhou que era uma borboleta e, ao acordar, não sabia se era um homem que sonhara ser uma borboleta ou uma borboleta que sonhara ser um homem.Ele escolheu o animal certo.Tivesse dito "Chuan Tzu sonhou que era um tigre", não seria nada. Uma borboleta tem algo de delicado e evanescente. Se somos sonhos , o verdadeiro modo de sugeri-lo é com uma borboleta."
Borges

Amanda disse...

Terminei a leitura com um sorriso de reconhecimento no canto da boca... =D
(2)

Rafaela Marinho disse...

Que lindo, Fer!
"eu sei que sou maior, e é isso que me mata, porque ser maior não basta.
Eu sofro por ter o mundo engasgado na garganta e minhas cordas vocais simplesmente falharem."
Essa parte em especial, me causou muita identificação. As vezes, me sinto como você, é uma impotência que angustia, não é? Bom, acho que é isso, entendi assim...
Parabéns pelo blog! Descobri pelo da Maria! Adorei, vou voltar mais vezes, com certeza! Beijos!