quarta-feira, 2 de junho de 2010

464 histórias pra contar

Praia de Botafogo, seis horas da noite, ônibus lotado.
Que tal um pouco de teoria sociológica? Ler Gilberto Freyre não me faz bem enquanto tem um suvaco fedido acima da minha cabeça.
Romance? O que pode ser excitante enquanto o ônibus saculeja e as pessoas caem em cima de você.
Talvez um pouco de música? Não, o "nem" lá de trás já se encarregou de tal incumbência.
Observar a paisagem, parece que convém.
E lá está ela, suja e linda.
A enseada de tantos poetas, tantos músicos, tantos músicos e poetas.
A mulher ao lado me cutuca, quer reclamar da vida.
NÃO FODE!
A mim já cabe minhas infelicidades, não preciso saber a de mais ninguém.
Engraçado, como ninguém te cutuca pra dizer que está feliz, ou seja, a menos que seja pra me contar que ganhou na loto ou vai se casar, não me cutuque, porque eu não quero saber.
A moça se levanta, senta um velhinho no lugar, me oferece uma caneta, a essa altura já fingi que voltei a estudar, é a melhor maneira de se tentar cortar um assunto. Aceito a caneta, obrigada. Logo em seguida, o esperado, um cartão de uma dessas igrejas neo-pentecostais, Tipo I Igreja do Canfundé do Judas, minha mãe sempre fala que estou precisando de Deus... Obrigada sou ateu.
Mais um que se vai... A essa altura já estou na Praia do Flamengo.
Volto a olhar a paisagem, pessoas jogam bola e o clima parece bem agradável, quem dera eu pudesse estar ali também, pensei em descer do ônibus, tomar uma água de coco, não dá, tem trabalho de CRB.
Agora senta um "nem" do meu lado, o "Relaxa e quica" adentra meus ouvidos de uma maneira que eu penso que meus tímpanos vão estourar, maldito infeliz que inventou caixa de som em celular, bons tempos quando cada um vivia feliz com seu walkman. Ao pensar isso, me senti velha e ranzinza, sobretudo, porque tinha um grupo de estudantes fazendo a maior algazarra no banco de trás, e eu estava achando tudo aquilo um porre. Logo eu, a líder da bagunça.
Ufa, vagou lugar lá no fundão, o "nem" vai pra lá e leva a turma com ele, enfim paz.
Um velhinho com aspecto de cansado senta ao meu lado, ele está dormindo, maravilha, a esta altura já estou na Lapa e o ônibus praticamente vazio. Ele começa a roncar, legal, pelo menos não tá me enchendo, fim da Men de Sá, preciso descer tio...
-Tio, Tio, Tio.....
silêncio.
ah, legal passou do meu ponto.
Filho da puta, vou ter que andar pra caramba..
Pegar o ônibus as 18h, me deixa velha e ranzinza...
e amanhã tem mais.

2 comentários:

Arthur disse...

Tanta carga de emoção em um texto tão bem descrito, e você só mora em Santa Tereza... Se morasse na Ilha, esse post talvez ganhasse um Nobel.

Fer disse...

Putz, pelo que você fala teria mais uns 10 fatos engraçados nesse texto
huahauhaa