segunda-feira, 11 de outubro de 2010

atenção,

Ouça o silêncio.
Era o que dizia a colorida pixação da esquina da rua da minha casa. Desde então venho tentando ouvi-lo.
Já coloquei meu televisor no mudo, tranquei as portas, fechei as janelas, mas tudo em vão. Por vez o ponteiro do relógio da cozinha, o latido do cachorro do vizinho, os dados do jogo de tabuleiros das crianças que brincam na rua. Todos estes ínfimos barulhos atordoam minha mente e parecem ensurdecer meus ouvidos.
Apelando para meu péssimo conhecimento filosófico, penso a priori que o silêncio só existe no mundo das idéias, sobretudo porque sinto-me incapaz até de pensar uma situação que não haja sequer um ruído. Digo isso, porque o silêncio que vi escrito naquele muro, não é o mesmo que aqueles desprovidos de audição escutam constantemente.
Descubro que não ouço o silêncio, porque não estou apta para tal, sim, como se fosse um processo evolucionista, que os relativistas tanto criticam. E neste ponto sou primata, é primitiva.
Não ouço o silêncio porque tenho medo de mim mesma, e não consigo suportar precisar dividir meus anseios e angústias apenas comigo mesma. Que me chamem de fraca, não me incomodo, sei que sou, mas não me importa, pois continuo aqui, trancada no meu quarto alheia ao mundo tentando me sintonizar com o silêncio.

2 comentários:

Anônimo disse...

não me lembro onde ouvi ou li isso, era algo do tipo:

um homem na cidade consegue ouvir uma moeda cair no chão, e na hora, olha pra onde acha mais provável que a moeda está; outro homem no mesmo lugar consegue ouvir no turbilhão da cidade o canto de um pássaro.

mais ou menos isso; somos educados para ouvir determinadas coisas e abstrair outras.

tô mais pro segundo cara: prefiro procurar no meio do turbilhão o barulho que me atrai, nem sempre é no silêncio que está o que se procura. minha singela opinião :)

beijos

Arthur disse...

Depois de viver mais de duas décadas ouvindo barulhos constantemente, seus ouvidos apenas captarão um ruído agudo e ininterrupto.

É chato e pouco poético, mas é verdade. Já somos incapazes de alcançar o silêncio puro, é irreal, não dá mais...